Uma aventura na Barra

Combinada em cima do joelho, eis que estava à porta a Operação Fim de Semana Aveiro [um pequeno aparte para dizer que sinto profunda admiração pelos agentes da autoridade que inventam os nomes das operações]. Os intervenientes: Julião e Bernardo.

O rendez-vouz estava combinado para a tarde de Sábado, já na Praia da Barra, mas eu optei por sair do Caramulo ainda manhã cedo e (leiam bem) tomar banho já na Barra porque o banho é melhor, a água tem mais pressão e o camandro...

A viagem foi tranquila e sem problemas cheguei ao destino pelas 11 da manhã. Preparei-me então para o já mencionado banho e quando estou pronto [pronto=nuzinho, completamente preparado para a lavagem] reparo que a água continuava fria. "Cortaram-nos o gás!", foi o meu primeiro pensamento mas o segundo foi de que o Humberto podia ter fechado a válvula no contador. Assim, enrolei uma toalha à cintura e lá fui ver a maldita válvula. Estava fechada, de facto. Abri-a mas a água continuava fria e então deduzio que o gás teria efectivamente sido cortado e decidi voltar a fechar a válvula, o que se viria a revelar um tremendo erro! Ainda de toalha à cintura lá voltei a sair para fechar a válvula e eis que a porta de casa se fecha com estrondo nas minhas costas!

Estava nu e fechado fora de casa!!

Depois de pensar variados impropérios e de mandar alguns encontrões à porta la decidi que algo teria de ser feito. Decidi tentar pedir um telemóvel a algum vizinho para ligar à MJ e daí logo se veria. Para adocicar o cenário não estava mais ninguém no prédio (não quero pensar que alguém não tenha aberto a porta a um desgraçado de tronco nu com uma toalha à cintura).

Era chegada então a hora do passo seguinte: vir para a rua pedir aos transeuntes pela tão desejada chamada telefónica. Depois de duas horas a pedinchar, com a minha dignidade a rastejar lá em baixo, junto aos meus pés descalços e frios cheguei à seguinte conclusão: todos aqueles estudos que dizem que há não-sei-quantos telemóveis per capita em Portugal são mentira! Quase ninguém tem telemóvel ou, se tem, está sem saldo/bateria! Nestas duas horas apenas duas pessoas me emprestaram o seu aparelho:
- A primeira foi uma senhora que olhava para mim com um olhar de pânico que metia dó mas que mesmo assim me deixou tentar duas vezes. A MJ não atendeu e nessa altura resignei-me ao meu destino e devolvi o telemóvel com ar de cãozinho abandonado.
- A segunda pessoa foi um jovem que, no primeiro contacto, entrou para a lista, já grande, de pessoas sem saldo mas que volta passados poucos minutos com outro telemóvel e diz "Tinha ali em casa este que acho que tem saldo...". Abençoado jovem-sem-nome!! Aqui deixo o meu silencioso tributo a esta alma que permitiu que o meu pessimismo antropológico não assumisse proporções desmedidas. Lá consegui fazer a chamada.

Poucos minutos depois lá chega a MJ com uns calções, uma t-shirt e uns chinelos, com um sorriso a escorregar para a quase-gargalhada estampado na cara que não só desculpo como admiro, se fosse eu acho que não me tinha aguentado. Queria aqui deixar também o meu silencioso, maior que o anterior, agradecimento e tributo à MJ e ao seu progenitor (que gentilmente cedeu as minhas vestes).

E agora?

Bem, primeiro tentei contactar o Humberto (dono da casa), que estava no Brasil, de forma a tentar contactar a senhora das limpezas, que tem uma chave. Mas o Humberto não atendeu as variadas chamadas e a solução de chamar os Bombeiros assemelhava-se-me inevitavel. Uma última e desesperada solução seria verificar se em casa do Humberto, em Coimbra, estivesse alguém que tivesse algum contacto ou mesmo uma chave. Liguei ao Julião e ele encarregou-se disso, visto que eu não dispunha do número. Pouco depois, óptimas noticias: o irmão do Humberto estava em casa e tinha lá uma chave. Ficou então combinado que o Julião passaria por Coimbra, a caminho de Aveiro para a ir buscar.

Após alguns incidentes (o irmão do Humberto tinha saido de casa e não estava lá quando o Julião chegou) lá veio a chave. Obviamente, queria também expressar o meu profundo agradecimento ao Julião que a certo ponto da epopeia estava já algo transtornado.

Ás 6 da tarde lá voltei a entrar em casa...e tomei banho!

Agradecimentos (por ordem de aparição): senhora-em-pânico, jovem-salvador, MJ, pai da MJ, Julião e irmão-do-Humberto. [à parte, gostaria também de agradecer a quem inventou os telemóveis].

Abraços

Sem comentários: