Também eu sou um homem bom

"Outro dia alguém me mandou um link de um vídeo qualquer, e eu, que já tinha visto o vídeo fazia tempo, parei para pensar na resposta. Tinha a consciência de que estava numa dessas tais de encruzilhadas da vida. Uma alma menor do que a minha, pensei, uma alma mais impulsiva e menos nobre, de menor gabarito, digamos, certamente responderia "Obrigado mas já tinha visto, imbecil". Ou algo nesse género. E não vou dizer que não fiquei tentado a responder isso mesmo, porque fiquei. Mas respirei fundo e a melhor parte de mim acabou vencendo, porque escrevi "Obrigado, não tinha visto, muito bom". E depois de enviar o email fiquei tão contente pela grandeza do meu gesto que levantei e fiz uma dancinha. Senti a necessidade de procurar um espelho imediatamente, porque queria ver como era o rosto de um homem realmente bom.

Digo, são as menores tentações que realmente nos põem à prova, e não as grandes. É fácil para pessoas como Albert Schweitzer dedicar uma vida aos pobres da África, um gesto quase grosseiro na sua falta de subtileza, mas se alguém mandasse para ele o vídeo do panda que espirra, em março de 2008, depois dele ter visto o vídeo quinhentas vezes, ok?, será que ele teria a delicadeza de espírito necessária para responder "hahahaha LOL amei!!!"?

O fato é que fui para o banheiro e fiquei olhando para o meu rosto durante alguns minutos. E o que posso dizer? Fui ficando emocionado com o que vi ali, naqueles olhos castanhos e no sorriso auto-depreciativo, e quase, quase chorei."

Alexandre Soares Silva